quinta-feira, 28 de julho de 2016

Férias Desportivas

Durante o mês de Julho e Agosto cerca de 900 crianças e jovens frequentam as famigeradas Férias Culturais e Desportivas da Câmara Municipal de Bragança. !!!!

Num distrito que se diz despovoado e envelhecido, numa cidade onde a taxa de natalidade não é lá muito gordinha, enche-se a alma ao chegar a um edifício a abarrotar de risos e gritos de crianças, em corridas desgarradas e multicolores.


Este ... hesitei agora, porque chamar-lhe ATL é ficar muito aquém da realidade.
Estas férias, chamar-lhes-ei assim, são uma instituição da cidade. Uma marca. Gerações. Manos que passam camisolas de cor uns aos outros, vermelhos que se tornam monitores. E sempre uma experiência única e gratificante para as crianças. 

Para quem não sabe do que estou a falar, as crianças formam grupos etários e usam bonés e t-shirts com a respectiva cor do grupo. Os amarelos, com 6 e 7 anos; os verdes, com 8 e 9 anos; os laranjas, dos dez aos onze; os vermelhos, dos 12 aos 13 e os azuis, os veteranos, dos 14 aos 15 anos.

Depois, há uma pedra preciosa, e não apenas de nome, que se dedica incansavelmente a "customizar" as t-shirts de toda a gente, por forma a ficarem todos fashion e fresquinhos, porque com tanto buraco, aquilo ventila por todo o lado, não é Safira? Com uma tesoura e muito carinho, produz autênticas obras de arte. E para todos. Com infinito gosto e paciência. (Dica: para o ano organiza um workshop para os pais também aprenderem, vale?)

As actividades são diferenciadas para cada grupo e de uma diversidade fabulosa. Eles jogam futebol, eles vão ao Azibo, eles andam de bicicleta, eles vão aos museus todos da cidade, eles ouvem contos na Biblioteca Municipal, eles fazem pão com chouriço na cantina da Câmara Municipal, eles dançam, eles nadam, eles cantam no karaoke, eles vão ao cinema e até à discoteca, eles constroem fantoches, eles vão a parques aquáticos, ao Estádio do Dragão, aos Bombeiros e à Polícia. 

Na imagem que escolhi estavam todos cobertos de tintas, foi a Color Dance Kids - música, animação, água, saltos, pulos e pinotes e pigmentos coloridos que fazem a alegria dos pequenos. Parecia uma rave, só que sem álcool. Um bom exemplo para os maiorzinhos de que se podem divertir... sóbrios!

Os meus parabéns a uma equipa fantástica que cuida destes turbulentos energéticos piolhos, resgatando-os de umas férias sedentárias de sofás, televisão e playstations.
É excelente para os miúdos, que se mantêm activos, criam amizades e desenvolvem competências de vida que nem sempre a escola teve oportunidade de concretizar durante o ano. Tais como: jogar às cartas; beijar debaixo de água; cravar uns cêntimos ao amigo para comprar um !

É útil e tranquilizador para os pais, que os sabem seguros e bem entregues.
E é, ainda, uma mais valia para a cidade, que se pinta de juventude em movimento. Sabe tão bem encontrar uma mancha laranja em correria no Eixo Atlântico, ver um bando vermelho a caminho do Polis ou uns pintainhos amarelinhos na Praça da Sé, a caminho da Biblioteca. Dão vida à cidade e, a mim, enche-me a alma!

Bem haja esta iniciativa por parte da Câmara Municipal de Bragança, um projecto exemplar que anima o município. É bom viver em Bragança!

Sweet Child O' Mine

Sei quem és.
Costumas ficar lá ao fundo, no cantinho mais distante do quadro, ao fundo da sala de aula, a usar as canetas como baquetas da tua constante percussão interior. 
Entendo-te. A música é a tua paixão. 
Bem te vi, delirante no concerto dos AC/DC. Com aquele brilho nos olhos. 
Não te posso mentir. Não estão nas minhas preferências, mas cantei muito Axel na adolescência, por isso, vá, cá nos encontramos melodicamente, algures. 
Entendo-te. Não posso viver sem música.
Tens uma banda, tens sonhos, tens esse brilho nos olhos que me agrada. 
Ou não.
Se denunciar consumos. Penso nisso, sabes. Muitas vezes. 
Que não te percas. 
Pareço a tua mãe a falar, não é?
Vê se me entendes, desejo que vás muito longe, que sejas grande, que concretizes os teus sonhos, que a tua música te continue a iluminar o olhar.
Mas.
Que não seja preciso mais nada para te inebriar.

terça-feira, 26 de julho de 2016

Baixar a fasquia


Ao som do meu novo mantra:
 "A areia é esfoliante! A areia é esfoliante! A areia é esfoliante!"
(não stresses com a areia na toalha e nem vale a pena sacudir porque não terás oportunidade de te deitar nela!!!!)

Por conseguinte, aqui estão os princípios que enunciei para mim própria por forma a tornar o verão exequível para os adultos e feliz para as crianças. 
Give them a break mum!


1) Se ninguém fizer a cama durante os quinze dias de férias... 
não há crise! AREJA!

2) Tem biquini e t-shirt?
Está vestida!

3) Está despenteada?
De qualquer forma vai pôr boné...

4)  Não lavou a cara e tem remelas?
Não faz mal... vai já para o mar!

5) Panou-se de areia, assim que acabei de colocar o protector solar?
Não faz mal... vai já para o mar!

6) "Tenho xixi..."
(Adivinharam!) Não faz mal... vai já para o mar!

7) "Tenho cócó..."
Só não os mando para o mar ou para as dunas porque as minhas leitoras ambientalistas caíam-me em cima, mas que dava jeito aos adultos e certa alegria matreira aos pequenos, não duvido.

8) Gelados e pizzas contam como refeições.

9) Banho na piscina conta como BANHO!
Haverá lá alguma coisa que desinfecte mais do que o próprio cloro?

10) Hora de dormir? ... é quando tombarem!

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Monólogo mental na passadeira

Eu, na passadeira do ginásio, uma segunda feira de manhã (qualquer segunda-feira de manhã) de um gélido inverno transmontano:

Primeiros 40 segundos - Está uma briasca do caraças! Ainda bem que vou fazer isto! Já vou aquecer!

Primeiro minuto - Já descongelei os pés! Que fixe!

Três minutos - Espectacular! Estou mesmo em forma! É que sou fit!

Cinco minutos - Hoje está-me a custar mais, fogo, não devia ter ido dormir tão tarde!

Oito minutos - Como é que aquela pita na passadeira ao lado lhe dá  com tanta força? Também... deve ter praí menos vinte anos e quilos do que eu!Só paro quando ela parar! Anda cota, não te fiques!

Dez minutos - Meu Deus, como é que fui capaz na semana passada? Não vou conseguir! Estou a arfar!

Doze minutos - Cem calorias? Só?!!! Nunca mais como nada em toda a minha vida!

Quinze minutos - Vou desistir! Vou desistir! Já não aguento mais! Aggghhhh! Isto é uma tortura! Tirem-me daqui!!!!

Vinte minutos - Estou mesmo em forma, fogo! Sinto-me a verdadeira maratonista! Fantástico! Era capaz de correr mais uma hora!!!

Vinte e cinco minutos- É melhor não, se não já não consigo levantar pesos! Espectáculo! Hoje estou mesmo em alta! Ainda bem que vim!

domingo, 24 de julho de 2016

Escola em manutenção

clip art cleaning lady | Main Page > clipart > Household > Cleaning > Page 2: Certamente vocês não sabem...
ou melhor, não pensam nisso...
Nesta altura do ano a escola é desventrada e revirada de alto a baixo até ficar im-pe-cá-vel.

Das instalações antigas aos edifícios novos, tudo  é escrutinado, teia-de-aranha a teia-de-aranha até à desinfestação absoluta.
Para que tudo fique higienizado, arrumado e funcional para o novo ano lectivo há que limpar as paredes das toneladas de trabalhos que os nossos filhos produziram, por forma a abrir espaço a outro carregamento de desenhos, composições, cartazes e trabalhos.
Também vi envernizar portas, esfregar tectos, aspirar frinchas de janelas. 

E apeteceu-me congratular publicamente esta patrulha da purgação que é, a muitos olhos invisível, mas fundamental para que as nossas escolas sejam acolhedoras para os nossos filhos. 

E  não apenas nesta altura, mas ao longo de todo o ano lectivo. 
Recuperam as camisolas que as nossas crianças deixam para trás, vigiam-lhes os lanches, os intervalos, as brincadeiras e as traquinices, obrigam-nos a comer a sopa, põem pensos nos dói-dóis e até dão colinho aos mais novatos. 
Com os adolescentes têm aquela relação paradoxal possível: apego/desapego, consoante a hora e os interesses em causa. É que as auxiliares educativas fazem lembrar as mães lá de casa, são chatas e mandam para as aulas e ralham se os vêem dar o golpe; mas também ouvem desabafos e apartam brigas e acalmam nervos antes dos testes com um sorriso. 
Conhecem bem os nossos filhos, por vezes em facetas que nós desconhecemos. Contribuem para a sua educação, para o seu o seu desenvolvimento. 
Acompanham os nossos filhos, vêem-nos crescer.

Por tudo isso: bem hajam!
Como mãe, obrigada!


quinta-feira, 21 de julho de 2016

Pokemónes


É pá...
Já tudo foi dito nas redes sociais sobre o fenómeno de entretenimento de ponta a que as massas se agarraram como zombies tão ou mais virtuais que os próprios bichos...
Eu, não querendo ser a velha do Restelo, lamento que as potencialidades de uma inovação tecnológica tão fascinante como a realidade aumentada, se tenham ficado pelo jogo e a alienação...

Não sei, mas isto sou eu que, inconscientemente tenho esperança que o ser humano arranje maneira de resolver o mundo e que tenho fé na ciência para ajudar a trilhar esse percurso.
Pelos vistos, não é para já.
Para já, para já, é andar assim de nariz enfiado no telemóvel, pescoço torcido e olhos esbugalhados.

Os advogados do diabo vêm com argumentos manhosos:

Ah e tal sempre fazem exercício físico, põe os miúdos a andar...
contra os postes e assim!
(quem tem mota aldraba o sistema e mesmo que o jogo peça dois quilómetros não dá nem um passo!!!! )

Socializam , desinibem-se...
como assim? vamos para o teu quarto...apanhar pokemónes!

Porque desenvolvem o sentido de orientação e desenrascam-se...
diz que já há pedófilos a fazer o mesmo, mais e melhor. A aplicação ajuda-os a desenvolver o sentido de orientação e a desenrascar-se.

Estimula a motricidade e a prossecução de objectivos, competências úteis à vida "real"...
quê? quantos problemas da vida "real" terão solução à raquetada no ar a bonequinhos invisíveis?


Os pokemónes são os gambozinos da modernidade.
 A essência era a mesma. Um gajo ia à procura de algo que algo que nunca ninguém tinha visto, mas todos sabiam que existia e todos queriam ter um.
 Só que sem ecrã...e também não consta que se ficasse viciado na caça aos gambozinos. Nem que grandes empresas estivessem dispostas a pagar exorbitâncias para esconder um gambozino nos seus estabelecimentos, a fim de atrair clientela....Enfim, gambozinos era coisa de putos. Picachús e afins já metem os adultos ao barulho.

No nosso tempo (nenhuma frase devia valer nada quando começa assim...) a gente caçava conchinhas na areia, grilos, gambozinos, gelados de gelo e episódios do Verão Azul ou do Justiceiro.  
"Kitxi vem mi buscÁ" , (fantástica dobragem em português do brasil) no mítico Pontiac de luzinhas vermelhas, era o expoente máximo da inovação tecnológica e da ficção científica. O bólide, que andava sozinho e falava, incorporava a nossa noção de futuro e de progresso.  É verdade que já há carros que quase conduzem por nós e que falam connosco. Mas para nos divertirmos andamos à la pata, vidradinhos em gadjets, à cabeçada uns aos outros em busca de algo "virtual"....

É pá...
Sejam felizes. Para mim, não.
Para mim realidade virtual e realidade aumentada são experiências que encontro dentro dos livros. Mas isso dava todo um outro post.

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Velhinho à soleira

Deep wrinkles:
Source: Pinterest
"Boa tarde! Então? Está a descansar?"

Acena-lhe afirmativamente com a cabeça, como quem já não desperdiça palavras, como quem já as usou todas, como quem pensa que já não vale muito a pena.
E pensa.
Descansar...Que mais hei-de eu fazer se a carcaça a mais não permite?
Quando somos velhos já temos pouco tempo, mas o tempo dura tanto! Os minutos de solidão cansam tanto como outrora as horas de labor.

Sentado na soleira do edifício urbano onde mora. Final da tarde tórrida de Julho. Gasta repouso até ao jantar. Fixa as chaves que segura na mão trémula e pensa.
Seguro o que me pertence e não tenho nada. Comprei um apartamento como quem compra um jazigo. Uma vida de trabalho investida em três quartos cheios de vazio, cheios de silêncio que não posso suportar.

Levanta o olhar. Fixa em frente, com os olhos piscos do sol e da idade.
Não tenho nada. 
Vejo prédios, onde quis cheirar serras; asfalto onde não tagarelam cabritas, nem ovelhas. 
Nas cidades é-se velho mais depressa e mais fundo. 
Na cidade os jovens são velhos, as crianças são velhas, tudo é brilhante e luminoso e alegre e vibrante, mas profundamente velho e triste.

sábado, 16 de julho de 2016

Saudade do cativeiro

 
Presa. Presa é que me sinto bem, ouviste?
Presa a ti, nas asas do nosso desejo, no voo do nosso amor picado, proibido e insano.

Comecei a sentir saudades no dia em que me libertei. 
Cortaram-me as asas quando pude voar. Pertenciam-te. Ficaram para trás.
Não pude se não rastejar o resto da vida, arrastar-me de ausências e memórias ácidas e escaldantes.
Sair de ti foi saltar para o abismo.

Custa respirar em céu aberto. Fere a luz nos olhos.
Ensurdecem-me os movimentos da vida a bulir cá fora - passos na calçada, gargalhadas de criança, vozes, burburinhos, automóveis a passar. Ensurdece-me a torrente de microfones e câmaras e flashes e perguntas, muitas perguntas, interrogações que não tinha em mim, interrogações em línguas que não entendo, mesmo quando são na minha.
Mais do que tudo, ensurdecem-me os segredos que me sopraste ao ouvido. Bloqueiam-me o raciocínio, baralham-me o destino, desfragmentam quem sou.

Presa a ti é que me sinto bem. A liberdade aprisionou-me na angústia.
Presa
a
ti.
 Agora...
 esta náusea,
 este sufoco,
esta ressaca de ti,
da tua voz, da tua pele, da tua força.
Garras que me seguram.
Pulsos que me sustentam.
Presa a ti é que me sinto bem, ouviste?
Não se é livre longe de quem se ama.
Amar é estar preso.




Síndrome de Estocolmo
estado psicológico particular em que uma pessoa, submetida a um tempo prolongado de intimidação, passa a ter simpatia e até mesmo sentimento de amor ou amizade perante o seu agressor

(O termo foi cunhado pelo criminólogo e psicólogo Nils Bejerot, que ajudou a polícia durante o famoso assalto de Norrmalmstorg do Kreditbanken em  Estocolmo (Suécia) que durou de 23 a 28 de Agosto de 1973. Quatro pessoas foram mantidas reféns por seis dias. Depois de libertadas, as vítimas continuaram a defender os raptores, mesmo depois dos seis dias de sequestro.)

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Not again!

nice.jpg
www.independent.co.uk

Mais um atentado no coração da Europa. Nice.
(Que já é como quem diz Paris, Orlando, Bruxelas, Istambul, Bagdad, Bangladesh...)
Sinto o coração apertado.
Preocupa-me muito - o presente e o futuro.
Preocupa-me não apenas a segurança, mas também o que podem estas tragédias semear nos corações das nossas crianças. Das que perdem familiares, das nossas que assistem. 

Não posso esquecer que, por altura do onze de Setembro, vi duas meninas no parque, penduradas naqueles ferros, "vamos brincar às torres gémeas"...
Onde nós, com a idade delas, víamos aviões para conquistar os céus, foguetões para ir à lua ou naves espaciais para descobrir novos planetas, elas veêm arranha-céus a sofrer atentados. 
Onde nós vivíamos ilusão e magia, elas vivem realidade e morte. Não sei...

Receio que o terror dissemine mais que medo. 
Que contamine os corações das gerações futuras com mais raivas, extremismos e vinganças. 

Não sei qual é o caminho, mas neste dia rezo pela paz.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Perspectivas!

<a href="http://may3377.blogspot.com" rel="nofollow" target="_blank">may3377.blogspot.com</a> - Craft
Source: Pinterest

Uma borboleta pousou entre os dois.

Tão linda! - diz ela.

Vai morrer em breve! - responde ele.

Porque dizes isso? - espantada com a observação.

É só uma borboleta... têm uma vida curta, não duram muito!- explicou ele, pragmático.

Não! 
ERA só uma lagarta e agora consegue VOAR! - explicou ela a sorrir.



Os factos são os mesmos. 
Tudo na vida é uma questão de perspectiva.

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Ode à poupança

Quem, como eu, lambe as tampas do iogurte levante a mão!

Poupadinhos deste país, uni-vos!

Vamos até Belém Bruxelas mostrar como se espalma o tubo da pasta de dentes até à exaustão, como se espreme a laranja até à casca, como se rapa tachos, como se leva marmita para o trabalho, como se partilha carros para não gastar gasolina, nem pneus,  .... e como, enfim, nos dói aquela gota do iogurte líquido que teima em não escorrer até à nossa garganta, por muito que inclinemos os pescoços para trás!

Os portugueses têm a fama injusta de ser oportunistas e aproveitar tudo o que é de borla. Não somos oportunistas, somos poupadinhos! E ainda assim déficit, dívida externa, sanções... um gajo não entende!

Nós tínhamos o ícone do esmifranço. Salazar. Desafio-vos a nomear o objecto da imagem aqui de cima. Sim, Salazar, mas como se chama no resto do mundo? Não deve haver nação nenhuma que tenha dado o nome de um líder político a um instrumento de cozinha do rapanço. Por que o fizemos nós? Porque somos poupadinhos. O que também faz de nós uns ases no cravanço. Mas dessa arte já as lideranças políticas se apoderaram.
.......
"Chora que a mãe dá!", apregoava o feirante na barraca de S.João. Assim mesmo. Choradinho rende mais, lá dizia o meu pai. Será que ainda nos vale o pregão na Comunidade Europeia?

......
 Cá em casa, por tudo isto e muito mais, somos fãs de "Redon", os aproveitamentos dos restos de comida, que resultam em verdadeiros manjares de rei.
Certo dia o Pedro fez sucesso no pré-escolar, porque comentou na rodinha (espaço de partilha oral de experiências ) que o pai tinha cozinhado "Nhanha de tubarão". De facto. Comprou uma big posta de tubarão em promoção. Comeu-se e, naturalmente, sobrou. "Nhanha" é o indizível delicioso de dar a volta a restos com azeite, alho e mais legumes. Sempre uma iguaria de sabores e nutrição única! Porque uma "nhanha" nunca se repete. É feita com o que há na dispensa ou no frigorífico. E é tão bom!
.......
Viva a poupança! O uso racional dos recursos! O Bom-senso! A exploração ao limite das bençãos de que dispomos! Abaixo o sovinismo!
Para mim, poupar significa potenciar partilhas futuras. Poder ter mais para distribuir. Faz sentido?

terça-feira, 12 de julho de 2016

Bons motivos



"Tenho cá as minhas razões..."

No meu tempo era assim que os adultos justificavam muitas das suas decisões (que, na altura, eram mais irrevogáveis do que hoje em dia...)

Todavia, isso agora já não basta em quase nenhuma das esferas em que nos movemos. 
Já nem as nossas crianças alinham em decisões despóticas e, na esfera social, financeira e burocrática, somos cada vez mais controlados e fiscalizados.

Hoje de manhã, à minha frente, na fila do balcão do banco, um senhor fez um levantamento de seis mil euros. A cara dele, perplexo a olhar para o papel, quando o caixa lhe explicou que tinha de assinar um documento e explicar o motivo do levantamento....

Ora, o homem lá se pôs de caneta em punho, a escorrer indignação e perplexidade enquanto eu pensava nas mil e uma razões que lhe apeteceria atirar para ali para o papel, só por causa desta audácia de se meterem na vida da gente, ora essa, mastigava entre dentes, mas afinal o guito é de quem?

Daí que, suspeito, que lhe terão ocorrido, de imediato, meia dúzia de verdades a assentar...
para ir às p******s, que já lá não passo há mais de um mês...
para limpar o **, seu bada*****s engravatado, o que é que tem a ver com isso?
para lhe chegar um fósforo, se me apetecer, a massa é minha, eu é que sei.
para pagar o c****** do conserto do carro

O caixa, adivinhando a efervescência, lá se foi justificando com normativos do Banco de Portugal na prevenção e luta contra esquemas ilícitos.

De caneta em riste, o homem continuava a esgrimir razoabilidades mentalmente, de sobrancelha franzida e página ainda em branco.

O caixa reforça - directivas da Comissão Europeia que visa “prevenir a utilização do sistema financeiro para efeitos de branqueamento de capitais e de financiamento do terrorismo”.  

E ao homem faz-se luz e escreve:
 É para dar ao terrorista do meu filho que estoura tudo em álcool, mas essa droga é lícita, não é?



segunda-feira, 11 de julho de 2016

T(r)aça do Euro 2016

 


      Pessoalmente não aprecio muito esta onda gigante do "toma lá que já almoçaste!" dirigido aos franceses.
      Por muito que já houvesse um autocarro pintado, por muito que faltasse uma torre iluminada com as cores lusas, por muito que a famosa falta sobre Ronaldo parecesse ser intencional.  Custa-me a acreditar em teorias da conspiração, provavelmente ingenuidade minha, e, em existindo, preferiria não valorizar. 
      
      Gostaria que CELEBRAR fosse suficiente.

      Até porque, houve tanta poesia envolvida, que eu quase me converto ao futebol. 
     
      Uma final em que 
      ... as lágrimas do herói derrubado são  amparadas por uma traça, onde o povo viu uma borboleta divina!
      ... um ilustre herói inesperado resgata com um golo toda a angústia suspensa de uma nação!
      ... o David vence Golias!

      Muito me congratulo com a vitória portuguesa na final do campeonato europeu de futebol.
     Não menos me orgulho das conquistas de Sara-Moreira e Jéssica Augusto no atletismo, ouro e bronze na meia-maratona dos europeus de Amsterdão, bem como de Patrícia Mamona, campeã europeia do triplo salto.
      Bom singrar e brilhar. Com o nosso esforço e empenho e trabalho.
      De resto, os cães ladram e a caravana passa.
      Nós é que ganhámos a traça!



domingo, 10 de julho de 2016

Verão, dietas e balelas

Clipart by Dennis Cox
       

   Ó amigas, eu sei que o que a gente quer é um bikini body, mas, vão por mim, não se encomenda em comprimidos no OLX, nem vem de um dia para o outro como as encomendas do Amazon...

    Na gíria do fit diz-se que "os corpos de verão se conseguem no inverno"... já não vamos a tempo? Então, começamos hoje a treinar para o verão seguinte!
  Quando nos dá o ataquinho da urgência veranesca, mergulhamos nos mitos e incongruências mais disparatados, só que...não, não vale tudo!
    Meia dúzia de coisinhas  tontas que já não posso ouvir:

1) Ai e tal, só como sopa ao jantar! 
De muito adianta, se se encherem de porcarias durante o resto do dia!!!!

2) Gosto muito de banana, mas engorda tanto!
De uma vez por todas, as bananas NÃO engordam! O que engorda é bolo de chocolate e "cruássãns" reluzentes de gordura. (Nem me vou dar ao trabalho de enumerar os benefícios nutritivos da banana, inclusive na perda de peso...)

3) O pão engorda muito.
Vai daí, troca por umas bolachinhas integrais crocantes e estaladiças com compota de morango por cima (a escorrer pelos furinhos, sabem como é?). São opções. Em termos calóricos, se calhar, é a mesma coisa, não sei. No que toca a nutrição e a saciedade, não hesito em escolher o pão, particularmente se for escuro e tiver sementes.
Para além disso, não é (só) o pão que engorda, é o que metemos lá dentro!

 4) Voltei ao ginásio hoje. Fiz uma aula de spin bike, uma de body pump e, no final ainda caminhei 20 minutos na passadeira...
LOL, bem-vinda de volta até nunca mais! Amanhã não te mexes!

5)  É DE fruta!
Saber a fruta ou ter fruta não é SER fruta! Folhados de maçã e compal de pêssego são açucares e gorduras e hidratos, não são fruta...

6) É light!
Ser light não impede que esteja carregado de edulcorantes ou sódio e gordura. É light mas não deixam de ser batatas fritas, ou cola, ou whatever. Há que ter moderação, light ou não! 

 - E para que não digam que só escrevo para mulheres - barriga de cerveja DIFICILMENTE é só isso!  Não é a cerveja, é o que comem com ela! E, claro, as quantidades!!!!  Um fino tem 70 calorias... e mais propriedades nutritivas do que qualquer refrigerante! Portanto, é saudável e aconselhável, com moderação. Não culpem a cerveja da pança, a menos que não comam mais nada o dia todo...


Basicamente:

Roma e Pavia não se fizeram num dia.
Não há exercício algum que corrija uma má dieta (alimentação).
É preciso comer bem para treinar.

E a vocês, que vos parece?
Que balelas vos chateiam?



sábado, 9 de julho de 2016

Montanhista

Furtada absolutamente sem autorização ao grande montanhista António Coelho!


“It is not the mountain we conquer, but ourselves.” —Edmund Hillary*


Toda a gente tem um percurso a cumprir na vida.
O meu é na vertical.

Escalar não é subir uma montanha;
é fazer parte dela!

Percorrer-lhe as entranhas
pés-pedra
mãos-rocha

pulmões de vento e cérebro de luz.
Sentir as veias rugosas  da rocha
na palma das mãos
Batimentos cardíacos sincronizados
- os meus e os dela.

Quando um homem se encontra consigo próprio,
a montanha faz eco do que trazemos cá dentro
sussurra-nos  mistérios, desafios, superações
gigante caixa de ressonância
dos nossos
mitos
medos
e
bravuras.

Mesmo quando,
Particularmente quando,
Lá em cima
O corpo ameaça sucumbir
O nariz não consegue inalar
O cérebro demora a processar
Sabes, montanhista,
que é aí
só aí
que queres estar!

Não há sobranceria,
nem vaidades vãs,
nem soberba
no cume ardiloso e gélido.
Só:
respeito
humildade
e gratidão.
Pertença.
Sentido.

Trilhos que outros percorreram antes de nós
Caminhos por onde outros nos seguirão as passadas.
Vê-se um homem a braços,
literalmente a braços,
com o seu lugar no ínfimo espaço de tempo
e espaço de espaço
a ocupar...

Viver é escalar.






*Edmund Hillary foi um alpinista e explorador neozelandês, famoso principalmente pela primeira escalada bem sucedida do Monte Everest. Ele e o guia sherpa Tenzing Norgay atingiram os 8850 metros do cume em 29 de maio de 1953. (https://pt.wikipedia.org/wiki/Edmund_Hillary)
 

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Olhar fatal




 
Ela
atónita 
a olhar para ele, 
que, em vez de atravessar na passadeira, 
se lhe tinha atravessado em frente ao carro, 
no meio da via, 
a desfilar o modelito 
de fato-e-gravata-para-a-entrevista-do-primeiro-emprego.

Ele, 
inflado,
a transpirar pompa no garrote do colarinho,
óculos de sol matadores, 
a olhar para ela
Está a olhar para mim!
Não me resiste! 

Não deu tempo de travar.
Quem não resistiu foi ele.

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Saudade

 
A saudade mói a quem ama ou quem amou.


A mim assalta-me em sonhos, porque de dia não permito que me assole o quotidiano de obrigações e rotinas. Há que rolar.

A saudade mói por dentro e por fora.
Envelhece. Traz-nos rugas, olhos raiados, papos por baixo deles e cabelos brancos.
Endurece o coração de alguns.
Envinagra as relações de quem não lhe toma as rédeas.
Impede de ser feliz quem se lhe ancora.

E todavia nos exacerba e sublima. Permite-nos ser grandes. Ter essência. Dar valor.

Tudo porque a saudade é a impressão digital do amor. Gravada na nossa memória a provar que existimos.Uma benção de humanismo. Um traço distintivo do ser humano.

Que a saudade nos guie nos afectos que ainda existem.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Carta ao adolescente filho de uma amiga minha!

 

Ouve lá, lindo!

Tu não te atrevas a falar nesse tom à tua mãe, ouviste?
Nem a bufar para o lado, nem a rebolar os olhinhos de impaciência... e quanto a sarcasmo... és caloiro; a tua mãe é doutorada! Fedelho! Pensas que te safas? Hoje vais ouvi-las! Que mais me importa que me chames chata ou me consideres cota!

Da próxima vez que te impacientar a ternurinha da mãezinha, lembra-te que te carregou no ventre, que lhe rasgaste as entranhas para vir ao mundo, que passou noites em claro quando estavas com febre, que te amparou para conseguires andar de bicicleta, e nadar, e comer com talheres, e apertares os atacadores!Os atacadores, caramba!

E lembra-te das vezes que te comprou aquelas calças de marca, ou te levou ao circo, ou te pagou o futebol. Pensa que não as comprou para ela, que não foi à sessão seguinte e que não se inscreveu no ioga. Porque eras TU a prioridade. Um pouco de gratidão não te ficava mal...

Por tudo isso, esquece lá os suspiros dramáticos...

Ela NUNCA vai desistir de fazer de ti um ser humano melhor.

Sem dúvida que ela te faz a vida negra...
Podia deixar-te fazer tudo o que te apetece, não era?

Passar o dia sem fazer nenhum, comer porcarias em todas as refeições, passar horas a mandar SMS para os teus amigos, siderar na playstation, ver televisão até tombar. Podia deixar que não mexesses uma palha para ajudar em casa, que não fizesses trabalhos de casa ou que vegetasses na selva imunda a que chamas quarto. Era ela permitir que saísses todas noites até altas horas com os amigos, que faltasses à escola, que não dormisses, que faltasses ao respeito aos adultos, que dissesses todas as barbaridades que te vêm à tola, que fosses um mau cidadão! Deixar que andasses de cuecas pela casa o dia todo, que praguejasses por tudo e por nada, que te queixasses da comida, de levar o lixo ou da prova de inglês!

Mas NÃO!

É assim que é boa mãe!A chagar-te o juízo a toda a hora, para que cresças, para que dês o melhor de ti próprio, para que sejas maior por dentro e acompanhes o corpo que te ultrapassou.

Porque ela está a cumprir brilhantemente o seu papel, ó cromo!
Ser a melhor mãe do mundo.
Para tal tem de se assegurar que és respeitador e tolerante. Mostrar-te como é ter boas maneiras. E ensinar-te a não desistir e a empenhares-te ao máximo quando as coisas são difíceis! Ajudar-te a comunicar as tuas emoções sem magoar os outros! Exigir-te que sejas o melhor aluno que conseguires. Não é o melhor da turma, é o melhor de ti! Ensinar-te a ser o melhor ser humano que conseguires ser!
Percebeste? Ela está a cumprir o seu papel com afinco.
E tu? Estás a cumprir o teu?

 

terça-feira, 5 de julho de 2016

Vidros Foscos


A maior parte das pessoas tem
a
doce
ilusão
que os vidros dos automóveis são impermeáveis aos olhares externos.
Só pode!
Só assim se explica que elas façam beicinho para retocar o batom no espelho da pala, enquanto o semáforo não avança.
E que eles tirem macacos do nariz compulsivamente, na fila para entrar na rotunda.
(Um vice-versa ficava bem aqui, mas embora não seja impossível, parece-me ainda bastante infrequente os homens retocarem a maquilhagem no trânsito... mas, se calhar, é porque vivo em Bragança; talvez em Las Vegas ou Tóquio seja diferente!)

Também supõem que, dentro do carro, são inaudíveis.
 "Queres-te calar, caralho? Mas tu queres mesmo fechar essa boca sua puta?" Não é propriamente stand up comedy no Coliseu...


Do que se depreende que, dentro do veículo, pensamos que não nos conseguem ouvir. De outra forma, por que razão esticam o pescoço janela fora para proferir impropérios, quando pretendem insultar a velhinha em contra-mão? Porque consideram que o habitáculo os insonoriza...

Ou não. Será exactamente o contrário?

De volante na mão, como debaixo do chuveiro, como no Karaoke, todos cantam.
Na estrada, no entanto, soltam-se mais livremente os pavarottis e as rhianas mais insólitos, sob o escudo dos vidros cerrados ou mesmo abertos. Stars do asfalto.

E acho bem. Só alerto, por experiência própria, que conduzir não se coaduna com um belo dum faduncho... é que um gajo cerra os olhinhos de emoção e o fado pode-se tornar fatal como o destino!

Brexit

Não esperávamos que a Grã-Bretanha saísse da Comunidade Europeia assim num fôlego. 

Não valem de nada os argumentos ah e tal foi sem-querer, não sabiam bem no que votavam, foi engano, não era bem assim. 

Está feito. 

E com isto receio o que virá. Uma Europa que se prevê desagregar-se ainda mais, com mais Estados Membros a desejarem cisão, um Reino Unido que deixará de o ser, por uma Irlanda e um País de Gales a puxarem a brasa à sua sardinha  e sentimentos regionalistas e xenófobos a ganharem terreno. 

Preocupa-me o que tudo isso poderá vir a significar em termos civilizacionais e humanitários.