quarta-feira, 17 de maio de 2017

Torre de Babel

Resultado de imagem para torre de babel, free clipart Uma das dificuldades que tive na transição para o primeiro ciclo prende-se com a linguagem.

Não me interpretem mal. Não me refiro ao facto de eu ensinar uma língua estrangeira e de, naturalmente, eles nem sempre me entenderem e termos momentos hilariantes, comigo a fazer caretas, mímicas, sons e até o pino para que cheguem sozinhos ao significado das palavras.

Não.
O que eu quero dizer é que eles não me entendem EM PORTUGUÊS!!!!!

Porque (por um lado)
a nossa linguagem de adultos é extremamente metaforizada, cheia de imagéticas, segundos sentidos, ironias, alusões e subentendidos cujo significado absoluto eles não captam.

e porque (por outro lado)
eles são crianças, têm um vocabulário mais reduzido e, acima de tudo, estão na fase do concreto e levam à letra tudo o que dizemos!

É o caos!A verdadeira Torre de Babel!
 
Se disser a uma criança de oito anos:
"Põe-te no lugar dele"
(querendo apelar à sua empatia pela situação do outro)
ela é bem capaz de se levantar e de se ir sentar no lugar do colega!

Se lhe perguntar:
"Que bicho te mordeu?"
Das duas uma: ou é menina e desata a guinchar só de imaginar que há alguma aranha por perto; ou é menino e responde-me simplesmente - "nenhum". (passando-lhe absolutamente a anos luz a minha alusão ao facto de se passar algo de estranho com a criatura!)

Se tentar ralhar:
"Quantas vezes já vos disse que não brinquem com as tesouras?"
Eles são bem capazes de me responder: "Muuuuuiiiiiitas"
Em coro! E com alegria! Acreditando piamente que era essa a resposta que eu queria ouvir, continuando a acenar com as ditas tesouras, a esgrimir os objectos cortantes no ar como se nada fosse. Porque, de facto, nada foi. Em bom abono da verdade, eu NÃO dei uma ordem. Eu fiz uma pergunta!


Isso é extenuante.
Ficam-se pelo sentido literal e gimnasticar a expressão para a frieza da objectividade linguística é para mim, mulher de palavras, muito difícil.

De maneiras que isso nos impede de dizer coisas como:
"não te faças de Inês" ou "não te armes em Xico esperto", sem que eles queiram saber de que Inês ou de que Xico estamos a falar!

 Com ironia também não vamos lá.
No teste, uma "É para responder em Inglês?"
"Não, filha, em Japonês!"
Ela, aflita:
"Mas eu não sei Japonês!"

Suspiro!

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