segunda-feira, 19 de junho de 2017

Fogo que arde PARA se ver

Resultado de imagem para luto símboloChamar-lhe incêndio é insuficiente.
A tragédia de Pedrogão.

Incontornável, a chamar-nos à realidade 

de uma nação florestal que há anos arde no seu próprio lume

de um território arborizado e a mato, em que os meios de Prevenção são insuficientes ou ineficientes ou ambos

de um país cujo interior é desertificado e, consequentemente, mais vulnerável

Mas, também e acima de tudo, que a tragédia de Pedrogão.
nos chame à realidade pungente

de corpos de intervenção incansáveis,
que arriscam e dão a sua vida para salvar outras

de uma sociedade civil solidária e pro-activa
que não se limita a sofrer em frente à televisão,
mas que age, que se une, que se move
(este fogo de camões
esta paixão)
este fogo interno que nos arde cá dentro sem se ver
mas que nos move, nos impele, nos faz aguerridos, destemidos,
todos nós, padeiras de aljubarrotas, nas crises
a arregaçar as mangas da nossa portugalidade
de altruísmo e vontade que leva tudo à frente.

de instituições que respondem,
acolhem e afagam sobreviventes e desprotegidos
pavilhões que se abrem
mantimentos que se distribuem
abraços que se dão

de equipas médicas e técnicos e psicólogos
que ali estão, como podem, para sarar feridas - por dentro e por fora

de empresas e cidadãos anónimos
que contribuem com donativos,
boa vontade e braços para trabalhar.
(toneladas de águas e bebidas, caixotes de fruta, pilhas de alimentos para armazenar e distribuir - muitas horas de trabalho e mãos disponíveis para ajudar).

de escolas
que abrem de novo os portões, no rescaldo (ou antes dele)
para que as crianças retomem o seu quotidiano
ou, pelo menos, sejam afastadas dos "teatros de operações"
termo que vem dos cenários de guerra e designa o ambiente das trincheiras.

Comove-me que a escola se tenha proposto abrir as portas da paz para as crianças.
Talvez por ser professora me tenha tocado muito este gesto. Nem sei expressar bem isto.
Abrir a Escola. Para as crianças. Se refugiarem do caos. Voltarem a estar juntas. Em paz.

Ou seja, bombardeada com relatos e imagens dramáticas, desejo sublinhar os traços de humanismo, boa-vontade, solidariedade e esperança que coei de tudo o que vi e ouvi.

Quanto ao fogo, que a tragédia de Pedrogão - aquele inferno absurdo e sem sentido com tantas vítimas a lamentar- marque um ponto final neste rastilho em que ardemos há décadas.



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